Caros,
Viagem à Islândia com a Icelandair
A marcação da viagem:
Foi fácil chegar a um acordo sobre as férias de junho, eu e a minha esposa rapidamente escolhemos a bela e selvagem ilha da Islândia. Com o destino escolhido passamos à fase da marcação dos voos. Sabendo que os preços das ligações aéreas para este país são dispendiosas optei por utilizar as milhas que dispunha.
De entre as várias hipóteses escolhi a combinação TAP + Icelandair com escala em Paris Orly. Os horários, especialmente à ida, eram bons e arriscamos uma ligação com apenas 1h00. Sabíamos que era algo curto mas podia ser que a sorte estivesse do nosso lado. No regresso a situação não era tão preocupante pois além de ter 1h10 para a mudança entre os voos, a TAP tinha voos mais tarde que permitiam chegar a Lisboa ainda nesse mesmo dia.
Tive alguma dificuldade em fazer o check-in online, pois envolvia duas companhias diferentes, e foi quase por acaso que na tarde anterior entrei no site da TAP e verifiquei que o procedimento estava enfim disponível.
Os voos:
Dia: 18/06/2016
Companhia: TAP
Voo: TP428
Rota: Lisboa – Paris Orly
Horário: LIS 9h55 - ORY 13h20
Avião: Airbus A320 (CS-TNU) (MSN 4106 – 1º voo em 30/10/2009)
Lugar: 10E (lugar do meio)
Distância: 894 mi / 1439 km
Ocupação: Entre 70% a 80%
Preço: Milhas + 208,66€ (LIS-ORY-KEF-ORY-LIS)
Em pleno Europeu de Futebol, com a seleção portuguesa a jogar em Paris ao final do dia, pensei que o aeroporto estaria mais caótico do que aquilo que na realidade estava. Foi rápido deixar a mala de porão e passar no controlo de segurança. Aguardei pelo voo na praça central, senti falta dos jornais que anteriormente eram oferecidos, e fui verificando que o mesmo iria registar um atraso, uma péssima notícia para quem dispunha apenas de 1h00 para a ligação.
Vindo de Frankfurt atrasado o CS-TNU lá parqueou na porta 126 e começou o embarque. Alguns africanos em voos de ligação, alguns fãs de futebol, jovens famílias mas ainda sobravam lugares neste A320 da TAP. Claro que os atrasos foram aumentando e foi apenas às 10h29 (+34m) que o avião deixou a sua posição. Levantamos voo às 10h45 a partir da Pista 03.
O A320 da TAP em Lisboa aguardando o embarque para o voo LIS-ORY
Tudo tranquilo a bordo, sem nenhum tipo de entretenimento para além da revista de bordo, foi servida uma sandes e bebidas às 11h15 e aterramos em Paris às 13h50. Quando saímos do avião da TAP faltavam apenas 21m para a partida do voo da Icelandair, mas já estava um funcionário à espera de 4 passageiros para esta ligação. Foi caminhar rapidamente pelo aeroporto parisiense, voltar a passar pelo controlo de segurança e já em cima da hora conseguimos chegar à porta de embarque do voo para a Islândia. Tínhamos conseguido fazer a ligação.
A refeição servida na classe económica
A sandes e o Compal são "padrão", podendo o passageiro escolher o sumo e café ou chá
A320 CS-TNU (foto de Stuart Haigh - Airliners)
Dia: 18/06/2016
Companhia: Icelandair
Voo: FI549
Rota: Paris Orly – Reiquejavique
Horário: ORY 14h20 – KEF 15h50
Avião: Boeing 757 -200 (TF-FIO) (cn 29436 – 1º voo em 24/03/1999)
Lugar: 29B (meio)
Distância: 1408 mi / 2267 km
Ocupação: Cerca de 70%
Preço: Milhas + 208,66€ (LIS-ORY-KEF-ORY-LIS)
A Icelandair utiliza na recente rota Orly-Reiquejavique um dos seus Boeing 757-200, o mais comum dos seus aviões. Quando entrei no TF-FIO pude verificar que o avião já não é um modelo recente apesar de estar ainda em bom estado de conservação. É um avião com cerca de 17 anos que sempre voou na companhia islandesa. Mesmo sendo um voo europeu de médio curso há pormenores no avião que remete para voos de longo curso.
O B757 da Icelandair em Paris Orly
A companhia utiliza três classes a bordo, a Economy, a Economy Confort e a Saga Class, a sua executiva. Tendo entrado, através de ponte telescópica, pela parte da frente do avião pude ver logo a sua classe executiva. Os assentos são antigos e esta executiva fica muito longe do melhor que se faz atualmente no sector.
As cadeiras da classe executiva Saga
Já com algum atraso em relação à hora inicial de partida e com as postas fechadas, os passageiros receberam a desagradável notícia que devido ao tráfego e a uma tempestade a norte de Paris tínhamos de esperar mais de 1h00 pela descolagem. Antes de decorrido este tempo, um novo aviso sonoro a dizer que finalmente tínhamos ordem para a descolagem. Palmas a bordo.
Aguardando por autorização para a descolagem
Toda esta demora permitiu ir observando o interior do avião, o assento, a leitura a bordo e o sistema individual de entretenimento. Este último apresentava algumas opções desde filmes, vídeos e informação sobre o voo. Contudo os auscultadores teriam de ser nossos ou comprados a bordo. O lugar em si era bastante espaçoso em comparação com os atuais assentos utilizados em voos europeus. Um pormenor que achei interessante num avião de uma companhia islandesa era as luzes de cabine a simular uma Aurora Boreal.
Os assentos
O generoso espaço para pernas
A revista de bordo da companhia islandesa
A rede de voos da Icelandair com destaque para as ligações Europa-América
Os quatro modelos da frota da Icelandair
Os aviões da Icelandair têm nome de vulcões
Reportagem sobre a histórica participação islandesa no euro 2016
Artigo sobre o novo destino ORY e sobre wi-fi a bordo
Alguns pormenores fazem recordar a idade do avião
Uma das particularidades da Icelandair, a iluminação a imitar as Auroras Boreais
Às 15h67 (+ ) saímos da nossa posição e começamos efetivamente a voar às 15h00. Apenas uma ligeira turbulência na fase inicial do voo. Quando chegamos à altitude de cruzeiro a tripulação começou o serviço de bordo. A comida a bordo é paga, mas as bebidas são grátis. Eu recusei ambas. Mais tarde pedi um copo de água.
O inicio do voo
As instruções de segurança
O menu
Comida paga a bordo
No ecrã individual pude ver a rota e lembro-me da passagem sobre o território escocês. Cerca das 16h00 a tripulação começou a preparar a cabine para a aterragem. Esta ocorreu às 17h00 (-1h em relação a Portugal Continental) e desde logo deu para ver que apesar de estarmos em junho, a Islândia é um país frio.
As opções disponíveis no sistema de entretenimento individual
Informações sobre o voo
Dados sobre a rota
Sobrevoando as ilhas escocesas
A cabine do B757
As "cinzentas" águas junto ao aeroporto
A chegada à Islândia
A aproximação à pista 11
O desembarque foi através de autocarro que levou os passageiros até ao terminal. O aeroporto é pequeno e dá para perceber que foi sendo ampliado ao longo dos tempos. Na televisão os islandeses assistiam ao 2.º jogo da sua histórica participação no Europeu de Futebol França 2016. Atravessei o terminal e fui até à zona de recolha de bagagens, mas tal como suspeitava a minha mala não apareceu no tapete devido ao pouco tempo de escala em Paris. Fiz a reclamação e saí do aeroporto para recolher a viatura anteriormente alugada. Terminava assim a minha estreia na Icelandair.
O desembarque por autocarro
Um D400 utilizado em voos domésticos e para Aberdeen
A chegada ao terminal durante o jogo Islândia-Hungria
O tapete das bagagens onde faltou chegar a minha mala
B757-200 TF-FIO (foto de Mats Salder - Airliners)
Dia: 24/06/2016
Companhia: Icelandair
Voo: FI548
Rota: Reiquejavique – Paris Orly
Horário: KEF 7h45 - ORY 13h00 (+ 2h)
Avião: Boeing 757 -200 (TF-ISS) (cn 27447 – 1º voo em 17/07/1996)
Lugar: 29B (meio)
Distância: 1408 mi / 2267 km
Ocupação: Cerca de 70%
Preço: Milhas + 208,66€ (LIS-ORY-KEF-ORY-LIS)
Depois de seis noites na bela e cara Islândia estava na hora de regressar a casa. A escala seria uma vez mais em Paris Orly e para embarcar no voo para Lisboa inicialmente previsto (TP439) pretendia um voo pontual.
Tinha feito o check-in no hotel na noite anterior, mas não tive hipótese de imprimir os talões de embarque propriamente ditos. Sabia que aquela hora o aeroporto deveria estar bastante concorrido pois é a principal hora de saída dos voos europeus da Icelandair. Felizmente o aeroporto de Keflavik mostrou-se muito rápido e em poucos minutos cheguei à zona de embarque.
O aeroporto de Keflavik
Os voos daquela manhã
Comecei por utilizar umas maquinas automáticas para imprimir os documentos de embarque. De seguida fui deixar a mala de porão a um balcão dedicado, evitando assim a longa fila de check-in. A passagem pela segurança também foi rápida e já na zona de embarque fiz as compras de última hora.
Maquinas para check-in
O balcão para entrega de bagagens
A área de embarque
As lojas do aeroporto
Publicidade à Wow, uma outra companhia islandesa
Um avião da Wow utilizado em voos para o continente americano
Um Boeing 757, a base da frota da Icelandair
O embarque para este FI548 foi efetuado através de autocarro. Alguns passageiros eram Norte Americanos em voos de ligação para a Europa. A ocupação não era elevada com apenas 60%-70% dos lugares ocupados.
O embarque para o meu voo
TF-ISS o avião utilizado para o voo FI548
De entre os seus trinta aviões a Icelandair escolheu TF-ISS para este voo KEF-ORY. Batizado com o nome de vulcão Dyngjufjöll, este B757 com praticamente 20 anos de vida está na companhia islandesa apenas desde 2016, tendo anteriormente pertencido à American Airlines.
Apesar de não ser um modelo recente, muito possivelmente por ter sofrido uma remodelação, apresenta um sistema de entretenimento mais recente que o avião utilizado na ida, o TF-FIO. Lugares espaçosos no seu interior.
Os assentos do B757 TF-ISS
A mensagem do Stopover muito presente
Saímos da posição às 8h25 (+40m) e começamos a voar às 8h33. Foi um voo tranquilo com exceção de uns segundos na parte inicial onde sentimos alguma turbulência. Cerca de 1h00 depois a tripulação começou a distribuir a comida, paga à parte, e as bebidas grátis.
O menu para as vendas a bordo
Dados sobre os B752 utilizados pela Icelandair
Informações sobre as várias classes da companhia nórdica
O sistema de entretenimento individual
Dados sobre o voo KEF-ORY
A cabine da Icelandair
Foi um voo sem nada de relevante a apontar. Antes da aproximação a Paris Orly aproveitei para mudar par a desocupada fila de trás de modo a conseguir viajar à janela. Aterramos às 13h48 (+48m) apenas 22m antes da suposta partida do voo da TAP e para piorar as coisas o desembarque foi por autocarro num processo lento.
A voar ...
Sobrevoando as pistas de equitação do norte de França
A voar rumo a Paris
A aproximação ao aeroporto de Paris Orly
A aterragem no aeroporto da capital francesa
Um B747da Corsair na placa de Orly
Um avião da regional HOP em Paris
B757-200 TF-ISS (foto Airliners)
Apesar do atraso registado, o que provoca momentos de stress, não perdi as esperanças de conseguir embarcar no voo TP439. Fiz tudo à pressa e na entrada do terminal vi no painel que o voo da TAP tinha chegado atrasado, portanto ainda havia uma hipótese. Passamos novamente pela revista de segurança e quando chegamos à área de embarque vi que o mesmo ainda não tinha sequer começado. Um atraso compensou outro atraso e assim conseguimos manter os voos iniciais.
Dia: 24/06/2016
Companhia: TAP
Voo: TP439
Rota: Paris Orly - Lisboa
Horário: ORY 14h10 – LIS 15h35
Avião: Airbus A320 (CS-TQD) (MSN 870 – 1º voo em 18/02/1999)
Lugar: 14B (lugar do meio)
Distância: 894 mi / 1439 km
Ocupação: Praticamente cheio em económica.
Preço: Milhas + 208,66€ (LIS-ORY-KEF-ORY-LIS)
Foi já com um considerável atraso que começou o embarque para este voo TP439. O outro avião da TAP para fazer o voo seguinte (TP441) já estava inclusive em Paris. Os passageiros, que praticamente enchiam este A320, entraram para o avião por ponte telescópica.
O atraso à partida permitiu ver o avião da TAP que ia fazer o voo seguinte
O avião apresentava alguns sinais de sujidade dos voos anteriores, mas nada de especial. Os ecrãs não foram ligados durante o voo e a demonstração de emergência foi feita pela tripulação. Alguns pormenores deste CS-TQD já deixam perceber a idade, sendo um avião inferior ao ao utilizado no voo da ida, o CS-TNU.
O push-back ocorreu às 15h05 (+ 55m) e começamos a voar as 15h10. O serviço de bordo começou às 15h48 e estava a ser um voo normal até ao momento da emergência médica. Devido a este facto foi pedido à torre prioridade na aterragem e utilizamos a pista 35 para o efeito. Aterramos às 16h20 (+ 45m). O desembarque foi pela porta 126 através de ponte telescópica e fui o penúltimo a abandonar o avião.
A refeição servida na classe económica
Emergência médica a bordo:
Cerca de 30m antes da aterragem em Lisboa a tripulação, através do sistema sonoro, perguntou se havia algum médico a bordo. Sendo a minha esposa médica intensivista (unidade de cuidados intensivos), depressa carreguei na campainha situada por cima do assento.
Enquanto a minha esposa passava pelo sono, eu disse à assistente que ali estava uma médica, ela perguntou se falava português e perante a resposta afirmativa pediu para ir ver uma passageira que estava a sentir-se mal. A minha esposa saiu do seu lugar e foi de imediato ver o que se passava. Um outro médico, pai de um piloto da TAP, também foi prestar auxilio à senhora.
O diagnostico foi muito fácil, a senhora estava a ter um AVC, o seu lado direito já estava paralisado e o quadro clínico era complicado. Começaram por deitar a senhora no corredor e a minha esposa tomou o comando das operações, isto apesar do colega também ser experiente neste tipo de emergências visto ser médico do INEM.
Uma palavra de apreço para a tripulação da TAP. Foram super prestáveis, depressa fizeram chegar às mãos da minha esposa a mala médica presente a bordo, foram simpáticos e tentaram na medida do possível manter a calma a bordo. Mas estavam visivelmente transtornados pelo sucedido. O chefe de cabine pingava suor, um comissário ficou junto dos médicos e da passageira, duas assistentes prepararam a cabine para a aterragem, alojaram os passageiros de modo que os médicos pudessem aterrar sentados na fila 20 ao lado da senhora e o comandante pediu aterragem de emergência, tendo utilizado a pista 35 em detrimento da pista 03 em uso aquela hora.
Costuma-se dizer que: "mesmo no azar o português tem sorte", a fortuna daquela passageira foi ter dois médicos competentes a bordo, pois caso contrário a hipótese de óbito rondava os 70%. Apesar de ser um daqueles quadros clínicos fáceis de identificar, típico de livros de estudante de medicina, a tripulação não estava obviamente treinada para tão grave situação. A faculdade de medicina e pelo menos seis anos de estudo fazem muita diferença nestes casos.
Mas nem tudo correu da melhor forma. Mesmo para médicos habituados a casos urgentes trabalhar no espaço reduzido de um corredor de avião não é fácil. A minha esposa detetou algumas pequenas lacunas na mala de médico. Faltava, por exemplo, um tubo para ligar a mascara à garrafa de oxigénio e um rolo de fita adesiva de modo a manter o acesso/agulha no pulso da doente.
O médico funcionário do INEM pediu ao comandante para falar com as operações de modo a ter à aterragem uma ambulância e a viatura VMER. Pedir ao CODU para ativar a "Via Verde AVC".
Contudo nada disto aconteceu, depois de rapidamente aterrarmos e chegarmos à porta 126, apenas estava a ambulância da Cruz Vermelha à nossa espera. A tripulação da TAP pediu aos passageiros para permanecerem sentados a fim de evacuar a senhora. Quando os socorristas chegaram ao interior do avião não sabiam como retirar a passageira deitada no corredor. Em vez de colocar o ambulift na porta traseira foi colocada uma normal escada utilizada para o desembarque de passageiros, o que obviamente não permitiu retirar a doente urgente.
Tudo isto demorou um tempo infinito e os passageiros das filas da frente, alguns deles em voo de escala, começaram a ficar impacientes e a pedir para sair do avião. Toda esta demora começou a provocar algum mau estar a bordo.
Todo o esforço da tripulação da TAP em lidar com a emergência e aterrar o mais rapidamente, foi anulado pela ineficácia do aeroporto em resolver estas situações. Um AVC tem uma "janela temporal" de duas horas para ser eficazmente tratado. A falta de meios para evacuar de um modo rápido e eficiente a passageira foram notórios.
Já tinha tido voos com problemas médicos a bordo, mas nenhum com esta gravidade. A lição que tiro é que é muito complicado quando isto acontece. Nem sempre há médicos experientes a bordo, não há o equipamento necessário, o espaço é apertado, os procedimentos de aterragem são demorados e a juntar a isto tudo, como foi este o caso, o aeroporto não está preparado para urgências.
A aproximação à pista 35 em Lisboa
Tudo feito de modo rápido até à chegada ao terminal
A porta de desembarque já com a ambulância à espera
A320 CS-TQD (foto de Szabo Gabor - Airliners)
Em resumo: Os voos da TAP foram negativamente marcados pelos atrasos verificados. A Icelandair também não foi um exemplo na pontualidade. A companhia islandesa apresenta alguns aspetos positivos, tais como espaço do assento e o sistema de entretenimento individual, mas nos restantes pontos é uma companhia que não encanta.
Um abraço,
João Pedro Gomes